Por Bruno Lima Rocha
Não há nada a comemorar com a morte de Fidel Castro, mas tampouco há que se deixar levar pela tentação de cultuar aos “grandes líderes”, a déspotas esclarecidos, ainda que tenham sido heroicos por toda uma vida. Cuba foi a grande revolução da América Latina e do Caribe, e sob as barbas do Império, transformou um prostíbulo em um país orgulhoso. Expulsou o imperialismo a bala e teve a generosidade de enfrentar a politica externa soviética e contrapor à linha de Moscou de convivência pacífica com o capitalismo durante os anos 60 e 70. Na década de ’80, arriscou seu magro orçamento no apoio da luta em Angola e na Nicarágua. Quanto a isso os méritos são inquestionáveis.
A tristeza com Cuba é a tentação autoritária, é por não haver aprofundado sua melhor, mais divina invenção, o conceito de Poder Popular. Um país pequeno, com população culturalmente coesa e afro-centrada, seria a democracia direta de orixás e machetes. A aproximação com a União Soviética trouxe por tabela uma dependência interna, a necessidade de realizar os acordos de cooperação e implementar um modelo semelhante.
Assim, de cinco organizações políticas que derrubaram o governo do ridículo e brutal ditador Fulgencio Batista, só uma, o 26 de Julho, terminou restando, se fundindo no PSP, antigo satélite de Moscou e ex-aliado de Batista. A vergonha termina com a fusão de ambos grupos no Partido Comunista Cubano, stalinista e orientado pela URSS.
Culturalmente, Cuba não é vencida pela demência eurocêntrica, cientificista e pretensiosa de explicação universal dos russos e seus satélites. Mas, reforço, há sempre o culto a personalidade e o mito do Deus vivo, no caso, Fidel. Os demais, santos guerrilheiros, um morreu em situação suspeita – Camilo Cienfuegos, que junto a Frank País era o líder mais popular do processo, bem mais popular do que Fidel – e o outro, Ernesto Guevara de la Serna, el Che, morreu em combate no planalto boliviano, também traído pelos pró-soviéticos de lá, o PC Boliviano.
Cuba é uma beleza pela sua resistência e uma enorme tristeza pela chance perdida de criar um socialismo humanista – como desejava o Che – anti imperialista – como desejava o Che – e tão altivo diante dos imperialistas da burocracia de Moscou como dos capitalista de Washington.
Viva Cuba, críticas respeitosas ao caudilho que se foi, mas nenhuma complacência com Raúl e seus seguidores da linha chinesa de Deng Xiao Ping. Ah, detalhe: Raúl só assume porque Fidel assim concorda. E aí, onde está a soberania popular para decidir os rumos do país. É perfeitamente possível ter uma economia planificada e autogestionária e democracia direta, com liberdades políticas plenas para o pensamento igualitário. Vamos em frente, com os melhores exemplos cubanos para nos guiar.
Saudações libertárias, Bruno Lima Rocha.