21 de setembro, de Porto Alegre, Bruno Lima Rocha e Rodrigo Jacobus
Pode-se pensar a política como sendo a síntese de idéias, vontades, necessidades, relações de poder, aspirações e interesses em uma sociedade civil organizada. Partindo-se deste conceito-base, é possível analisar a economia política da informação, comunicação e cultura como um instrumental teórico em auxílio à construção de modelos de produção midiática de baixo custo focados no local. Neste artigo, propõe-se um modelo integrado de produção de audiovisual de caráter popularesco, oferecendo um exemplo que ocupe o lado oposto do clientelismo, além da cultura política pragmática e paroquiana. Espera-se, assim, apresentar uma singela colaboração ao campo da educomunicação, partindo-se da crença de que a capacidade cognitiva dos cida-dãos pode ser estimulada e desenvolvida tanto a partir do exercício de recepção de produtos culturais autóctones, como também em função do envolvimento de uma parcela representativa desta população no processo produtivo destas mídias.
O seguinte texto foi publicado em 2009 no livro Digitalização e Práticas Sociais, or-ganizado por Valério Cruz Brittos, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Introdução: aporte teórico
A maior parte dos analistas – politólogos / cientistas políticos, jornalistas especializados na área e operadores no campo da mídia alternativa pratica mais a crítica do que oferece alternativas viáveis na realização do intento. Não se trata de mera crítica à teorização em detrimento da prática, pois ambas estabelecem papéis importantes no âmbito de qualquer instância. Afinal, a liberdade de pensamento, expressão, informação e comunicação é um direito constitucional, sagrado e deve ser exercido. Mas, por vezes, é necessário ir além do ataque e buscar alternativas praticáveis.
Propor é mais difícil do que criticar. Mas, propor algo exeqüível é algo ainda mais complicado. As premissas do pensamento neoliberal estão quase sempre ocultas. O problema orçamentário se apresenta como uma caixa preta. As informações estão longe de serem auto-explicativas e, assim, os poucos brasileiros bem informados vão levando o dia a dia sem entender porque é tão difícil ver uma grande realização. É por causa dessa prática errada e antiética de premissa oculta que se tenta aqui pôr um grão de areia nas alternativas sócio-político-econômico-culturais-midiáticas.
As teorias do pluralismo regulado de John B. Thompson (1998) e da cauda longa, conforme propõe Cris Anderson (2006), são parte significativa e indícios da atenção que tem sido dedicada pelas recentes pesquisas e reflexões sobre o papel dos meios de comunicação na organização das sociedades modernas: a urgência da descentralização dos recursos destes meios, a separação do poder estatal e a migração da cultura de massa para a cultura de nicho.
Segundo Thompson em A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia, o pluralismo regulado compreende:
[…] o estabelecimento de uma estrutura institucional que abriga e garante a existência de uma pluralidade de independentes organizações de mídia. É um princípio que leva a sério a tradicional ênfase liberal na liberdade de expressão e na importância de sustentar as instituições de mídia independentemente do poder do estado. Mas é um princípio que também reconhece que o mercado deixado a si mesmo não pode garantir necessariamente as con-dições de liberdade de expressão e promover a diversidade e o pluralismo na esfera da comunicação. Para garantir estas condições e promover estes objetivos, podem ser necessárias a intervenção no mercado e a regulamentação dos processos mercadológicos, de tal maneira que não se enfraqueçam a diversidade e o pluralismo pela concentração de poder econômico e simbólico. (1998, p. 209).
Em sua proposta, o autor entende como urgente a descentralização de recursos nas indústrias de mídia, através da criação de “condições favoráveis para o desenvolvimento de organizações de mídia que não façam parte dos grandes conglomerados já existentes”. Como também a necessidade de liberdade “para articular pontos de vista críticos às políticas e aos políticos do Estado” (idem, p. 210), isentas de censura aberta ou indireta, ou quaisquer tipo de pressões e ameaças derivadas, por exemplo, da “cultura da dependência” decorrente da necessidade de apoios políticos e/ou financeiros. Ainda ancorando-se nas reflexões de Thompson, é clara a distinção entre produtores e receptores na publicidade das informações mediadas pelos meios de comunicação de massa, onde se estabelece uma relação não dialógica, inserida na idéia de quase-interação do autor: “Produtores geralmente criam mensagens da mídia para um número indefinido de receptores potenciais, e estes geralmente recebem as mensagens sob condições que não lhes permitem responder aos produtores de alguma maneira direta ou discursiva” (ibi-dem, p. 213).
Em paralelo, Cris Anderson em A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho traz à tona a idéia de economia da abundância interligada aos avanços técnico-midiáticos: “o que acontece quando os gargalos que se interpõem entre a oferta e a demanda em nossa cultura começam a desaparecer e tudo se torna disponível para todos” (2006, p. 11). Embora o autor trate especialmente das possibilidades de produção de conteúdo pela Internet, pode-se pensar a economia da abundância também para produção de conteúdos em outros meios técnicos, expandindo ainda mais os nichos do mercado de comunicação de massa, além da rede mundial de computadores.
Junto à Internet e à proliferação do uso de computadores, outras tecnologias têm se popula-rizado, atingindo amplos graus de acessibilidade a baixo custo. Há uma grande oferta de páginas, portais e softwares livres disponíveis, bem como de meios técnicos que ampliam as possibilidades muito além da produção de blogs. Atualmente, celulares, câmeras digitais e os chamados PMP (Portable Media Player) (1) oferecem, em sua grande maioria, câmeras e gravadores de voz. De modo que os efeitos da cauda longa apresentam-se em franca expansão, muito além da produção de textos. As possibilidades de realização em audiovisuais, por exemplo, aumentam as pretensões de transformar os cidadãos em distribuidores de conteúdo, tal qual propõe Anderson. Tal possibilidade associada a um computador com acesso à Internet, softwares e páginas gratuitos para edição e distribuição respectivamente (2) , significam um enorme avanço na idéia de economia da abundância.
Portanto, pode-se avançar a partir de algumas premissas essenciais no que tange o aspecto da economia política desta proposição. Em primeiro lugar, é essencial aliar teoria e prática, de modo que a proposta discutida possa ir além do âmbito acadêmico, oferecendo uma alternativa com o mínimo de viabilidade além dos limites de epistemologias e prerrogativas encarceradas em universidades, faculdades e escolas. Em um segundo momento, buscar a compreensão de que o processo de descentralização dos recursos dos meios de comunicação, a separação do poder estatal e a migração da cultura de massa para a cultura de nicho precisam ser acompanhadas por políticas públicas de fomento à produção, a partir de um modelo autônomo, cujos objetivos transcendam a chamada cultura da dependência. Enfim, é fundamental que tais iniciativas prossigam independentes de transições eleitorais-partidárias, acumulando valor simbólico ao longo de sucessivas experiências. De modo a estimular, assim, o envolvimento por parte das comunidades e, conseqüentemente, desenvolver o pensamento crítico num âmbito societário a partir da educação pela mídia, a chamada educomunicação, contribuindo no resgate de identidades coletivas a partir da promoção de culturas locais, como também na geração de renda. Para tanto, parte-se do pressuposto que:
A educomunicação tem como principal objetivo inverter a lógica que restringe o leitor de jornal ou o ouvinte de rádio à mera condição de consumidor. Dessa forma, o receptor ganha a oportunidade de ser também emissor e produtor da mensagem midiática. Não por outra razão, essas iniciativas podem ser descritas como verdadeiras experiências de cidadania. (FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, 2004).
Ao abrir possibilidades para que receptores tornem-se produtores, ameniza-se o impacto da “desigualdade entre os participantes no processo comunicativo” (THOMPSON, 1998, p. 35) e criam-se novos nichos que alavancam a economia da abundância (ANDERSON, 2006), apri-morando-se conseqüentemente a recepção – a disseminação e apropriação pública dos proces-sos produtivos de comunicação cumprem, por si só, este papel educacional, no momento em que aproximam os cidadãos leigos das técnicas especializadas e explicitam as “regiões de fundo” (THOMPSON, 1998). De modo complementar, compreende-se que “a identidade coletiva é o sentido que cada um tem de si mesmo como membro de um grupo social ou coletividade; é um sentido de pertença, de ser parte de um grupo social que tem uma história própria e um destino coletivo” (THOMPSON, 1998, p. 165). Para Thompson, ainda, o sentido que cada um tem de si mesmo – a chamada “auto-identidade”, assim como a identidade coletiva “são modelados – em vários graus dependendo do contexto social – pelos valores, crenças e padrões de comportamento que são transmitidos do passado”, em relação profunda com a noção de “tradição” trazida pelo sociólogo:
O processo de formação de identidade nunca pode começar do nada; sempre se constrói sobre um conjunto de material simbólico preexistente que constitui a fonte da identidade. Mas pode muito bem acontecer que, com o desenvolvimento dos meios de comunicação, a natureza desse conjunto de material simbólico preexistente tenha se alterado significativamente, e isso possa ter implicações no processo de formação de identidade. […] O desenraizamento das tradições dos locais compartilhados da vida cotidiana não significa que as tradições flutuam livremente; pelo contrário, as tradições sobreviverão ao longo do tempo somente se forem continuamente reincorporadas em novos contextos e reancoradas em novos tipos de unidades territoriais. (idem, grifos do autor).
Pensando, assim, a reincorporação e reancoragem da tradição como possível caminho para a construção identitária, a proposta aqui sugerida situa-se contextualmente e territorialmente na vida coletiva do município. Não necessariamente em qualquer um dos mais de 5564 municí-pios do país (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2007). A idéia é concentrar-se especialmente nas cidades que NÃO são uma de nossas 27 capitais nacionais ou as chamadas cidades-pólo (3) . Enfim, o texto vai focar as cidades que têm menos visibilidade para o conjunto do país. Dentro desta distinção, são as com menor renda nas regiões metropolitanas (4) ou aquelas que não representam nem mesmo pólos regionais. Não necessariamente trata-se de cidades com vocação rural, embora a maior parte dos municípios do interior enquadrada nesta classificação tenha este perfil econômico. Espera-se, deste modo, utilizar o crescente aumento da acessibilidade às novas tecnologias como instrumental para alavancar oportunidades relacionadas à teoria da cauda longa em regiões economicamente menos favorecidas e amenizar o impacto da concentração cultural nos grandes centros urbanos, tencionando diminuir as discrepâncias que induzem a diversos problemas sociais.
No âmbito político, vamos pôr foco e atenção nas intencionalidades não-manifestas pelos candidatos a cargos municipais provenientes de processos eleitorais. Seremos propositivos, buscando maior reflexão por parte do leitor, de modo que este veja a política além do voto. Por POLÍTICA compreendemos a síntese de idéias, vontades, necessidades, relações de poder, aspirações e interesses que envolvem as relações nos mais diversos âmbitos da vida em sociedade. Busca-se, assim, uma alternativa à chamada política profissional, praticada no âmbito institucional-partidário, bem como do seu reflexo no inconsciente coletivo e conseqüente determinação de padrões comportamentais nas mais diversas instâncias sociais. Quer-se ir além das mazelas do clientelismo, compra de votos, fruto de máximas comuns à prática cotidiana, como a conhecida “é dando que se recebe”; apadrinhamentos, dublês de políticos e cartolas, além de tudo aquilo que caracteriza uma cultura política pragmática e paroquiana que reina e associa-se de modo dramático à idéia que se tem de política no discurso do senso comum.
Os protagonistas da ação política que estamos advogando são os movimentos populares e as associações da sociedade civil organizada. Como o debate e a luta pela democracia na comuni-cação atravessam o conjunto da estrutura de classes, entendemos que o fazer midiático é tarefa e atividade que ultrapassa as entidades de base de tipo sindical ou popular. Entendemos que este papel cabe ao conjunto da sociedade civil (BORBA; SILVA. IN BAQUERO; CREMO-NESE, 2006), mais especificamente à sociedade civil organizada. Se pensarmos esta a partir da concepção proposta por Georges Couffignal (2000), a sociedade civil ultrapassa ao perfil do conjunto de entidades reivindicativas já organizadas para lutas reivindicativas. Este conceito abarca estruturas mais informais ou fora do mundo da política e da luta dos movimentos populares. Embora a sociedade civil organizada que defendemos exista de e por si, o seu protagonismo passa pelo avanço de sua organização interna e na transformação de seus afiliados em ativistas da defesa e ampliação dos direitos da maioria. Por isso discordamos de qualquer definição de sociedade civil que a veja como policlassista (por cima da estrutura de classes) e baseando sua existência na colaboração com os grandes agentes econômicos (forças de mercado em diferentes escalas de penetração nos territórios). Compreendemos que estas entidades devem compor forças junto aos movimentos populares organizados e as entidades de corte clássico (sindical, estudantil, moradores) e, numa correlação de forças, tentem forçar o Estado a ser responsivo.
Enfim, aqui não se entende como válida para o processo de democracia e universalização do direito à comunicação, informação e cultura uma atitude que caracterize a relação de clientela ou de “busca de equilíbrio” com o governo de turno ou os capitais hegemônicos na região. Nesse sentido, enfatiza-se e compartilha-se com John B. Thompson (1998) a preocupação necessária frente à já citada “cultura da dependência”. Diante deste aporte teórico, o debate prosseguirá a partir de uma idéia distinta, construída sobre propostas e possibilidades de realização. Para colorir o panorama do fundo da tela, apresentamos uma idéia no campo do audiovisual para ilustrar nossa intencionalidade.
A práxis da proposição
Imaginemos um festival de vídeos gravados, por exemplo, em celulares. É algo fácil, custo baixo, abundância de câmaras cada vez mais potentes e acessíveis e participantes voluntários. Hoje, consegue-se uma razoável ilha de edição baixando um programa gratuito ou livre pela Internet. Todo município, a princípio, tem uma secretaria ou departamento de cultura. Então, a grande pergunta é: por que não investem em uma produção audiovisual de baixo custo? Se considerarmos que para a maioria dos brasileiros não falta imaginação e criatividade, então o que está em falta? O problema normalmente localiza-se no quesito mentalidade política.
Uma possível objeção poderia vir à tona: de que adianta fazer festival se não tem como vei-cular? Como primeira alternativa, mais óbvia e presente na contemporaneidade, a Internet oferece, desde que devidamente trabalhada no sentido de ampliar o seu acesso, o que gradati-vamente tem ocorrido, distribuição e repercussão afora dos limites municipais aqui propostos. Uma segunda possibilidade é recriar um circuito cultural com identidade própria nestas cidades, com um sistema distributivo concomitante, porém independente da grande rede – um modelo que será esboçado mais detalhadamente ao longo deste artigo, e cuja mecânica é mais interessante no contexto da proposta, devido à mobilização social que envolve a sua implementação.
A proposta de criação de um circuito audiovisual de baixo custo e amplitude municipal é constitutiva de uma perspectiva analítica onde quem analisa também prescreve e se posiciona. Somos adeptos deste tipo de posicionamento e este artigo quer também difundir esta forma de análise política. Vale lembrar que as propostas se referem a uma gama de possibilidades de realizações, tendo à frente o poder executivo municipal. Alguns pré-requisitos para a execução deste tipo de política seriam: um mínimo de verba de custeio; a concepção de que cultura é importante e não algo secundário; vontade política de reforçar o tecido social e a auto-estima dos moradores em cidades com poucos atrativos; uma gestão transparente de modo que as iniciativas não sejam todas elas associadas somente ao aumento do capital político de prefeitos e seus aliados.
Entrando no tema específico do audiovisual, entendemos que o incentivo e o envolvimento direto das prefeituras com a produção local é algo inadiável. Vivemos a era da imagem e da polissemia. Na busca de identidade, os municípios periféricos ou mais pobres vivem uma “síndrome de bastardo” – não se reconhecendo como referência em quase nenhum setor da economia, política ou cultura, terminam por perder boa parte de sua mão de obra para outros lugares, em especial as capitais ou cidades-pólo, engrossando os cordões de miséria nestes locais em detrimento do esvaziamento de regiões subocupadas – uma falsa ilusão decorrente de uma falsa crença em falsas oportunidades. Gerar produção cultural nestes lugares pode contribuir, mesmo que de modo sutil, no desenvolvimento da valorização destas populações, resgatando questões essenciais quanto à tradição e identidade. Tal qual conclui Thompson, pensamos que:
Será difícil dizer se nós conseguiremos desenvolver um sentido de responsabilidade numa forma de reflexão prático-moral que forneça uma orientação racional para a conduta humana e se chegaremos a entender suficientemente os complexos processos criados humanamente para intervir efetivamente nela. Mas tentar é a melhor – e única – opção que temos. (1998, p. 228).
a) Pensando o suporte técnico e a organização inicial
Entre as tecnologias economicamente mais acessíveis, os telefones móveis multifuncionais encontram-se entre os mais abundantes. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), em dados totalizados até setembro de 2008, havia no país 140.788.562 para uma estimativa de população de 192.215.512 habitantes, gerando uma densidade de 73,25 telefones móveis para cada 100 habitantes (ANATEL, 2008). Isto caracteriza o país como o 5º maior mercado de telefones móveis do mundo (IDG NOW!, 2008). Conforme mencionado anteriormente, boa parte dos telefones celulares tem aplicativos para gravar áudio e vídeo. Podem ter pouca definição e baixa qualidade técnica. Mas nada disso é necessariamente uma “novidade”. Não custa lembrar que o cinema nacional cresceu a partir de curtas metragens rodados primeiro em 8mms e depois em Super 8. Na década de 60, mais especificamente no ano de 1965, a empresa Kodak aperfeiçoou o antigo formato de 8mms já criado em 1932 como uma versão mais barata do que o filme de 16mms (PIPER, 1978).
O conceito aplicado nas películas de filmagem pode ser reeditado com o vídeo de celular. Na época, os suportes de mídia não eram multifuncionais, mas já visavam popularizar o acesso às filmagens caseiras, ao experimentalismo e a perspectiva de cineastas amadores. O mesmo pode haver agora, no período da mídia interativa. O mais caro – as câmaras e películas – já se converteu em mídia móvel e barateou seu custo. Hoje está nas mãos de adultos, adolescentes e jovens ávidos por interatividade. Estes mesmos portadores de câmaras móveis são carentes de conteúdo e têm pouca ou nenhuma referência do cinema latino-americano. As narrativas são, ou pelo menos deveriam ser patrimônio do povo. Infelizmente, a grande maioria de nossa população desconhece a produção cinematográfica brasileira. Com a motivação de realizar curtas experimentais, não só estar-se-ia estimulando a produção e conseqüente aproximação popular no protagonismo midiático, como também estaria sendo lançada uma rede em busca de novos expectadores para os clássicos do cinema brasileiro.
A experiência aqui proposta não é totalmente inédita, tendo sido realizado algo muito parecido na cidade de Palmas, capital de Tocantins, com o projeto Telinha de Cinema (5) . Segundo relato da professora Leila Dias a respeito do uso da tecnologia dos celulares:
Logo no primeiro contato a decisão pelo uso dos celulares se mostrou, pedagogicamente, mais do que acertada pois, mesmo sendo moradores de comunidade carente, os jovens selecionados para a primeira turma já demonstravam familiaridade com o equipamento. Isso potencializou as características peculiaridades das câmeras dos celulares, que são de fácil manipulação e difusão dos resultados finais. Decidido pelo o uso de câmeras dos telefones celulares, o próximo passo foi definir o conteúdo e desenvolver uma metodologia própria, já que especificamente sobre os pocket movies (como é chamada essa nova linguagem audiovisual, baseado na produção e/ou exibição através de celulares) ainda não há literatura nem muitos estudos acadêmicos. Decidimos então embasar o conteúdo básico, como técnicas de roteiro, produção, cinegrafia, direção e edição nos conceitos cinematográficos, buscando interagir com a linguagem de hipertexto utilizada na internet. Dessa forma, conseguimos construir um conteúdo programático específico para o ensino do pocket movie, agregando à parte técnica, o estudo da história e da função social do cinema. Organizado isso em um material pedagógico, ainda não editado formalmente, os alunos das duas turmas (2007 e 2008) puderam aprofundar a experiência técnica possibilitada pelo Telinha de Cinema. (DIAS, 2008).
Obviamente a organização de um festival de curtas poderia ser concebida das mais diversas formas. Então, construindo a concepção desde a sua organização inicial, poder-se-ia começar pela categorização da produção por idade, formato e tema. Assim, sugere-se uma divisão por faixa etária, reservando espaços para crianças, adolescentes, jovens, adultos e terceira idade, de modo a estimular a participação e ampliar o espectro de produtores de acordo com suas capacidades e vivências. Concomitante com a divisão etária, viria a divisão por formato. Os vídeos poderiam ser, por exemplo, de 5’, 10’ ou 15’. E, finalmente, poderiam ser subdivididos em categorias temáticas, como ficção ou não-ficção.
Supondo que em um município de uma cidade metropolitana a idéia fosse bem acolhida, o que este festival teria de diferente para os festivais em mídias móveis (“pocket movies”)? Uma distinção fundamental estaria no suporte da feitura dos roteiros, na difusão para os moradores da localidade e a distribuição, onde entraria o poder público municipal. Vejamos primeiramente algumas questões iniciais quanto à difusão e distribuição.
Difundir cinema começa pela triste constatação de que apenas nove a cada cem municípios brasileiros têm uma sala de projeção. Que dirá uma cinemateca! Este é um problema que toda e qualquer secretaria de cultura ou autarquia responsável deve enfrentar urgentemente. Se a maioria dos brasileiros não tem acesso ao cinema para assistir aos “enlatados”, imaginemos a dificuldade com os filmes produzidos e pensados por e para brasileiros.
Qualquer prefeitura que se preocupe com a capacidade cognitiva de seus cidadãos deve confrontar esta realidade. Pois, considerando-se que se trata de um tema de ordem pública, o correto é que o governo subnacional da cidade envolvida posicione-se como fomentador. Te-mos o costume de associar o envolvimento do ente estatal na produção cultural como uma forma de burlar o fisco. Isto porque as leis de incentivo à cultura passam pela evasão fiscal. Mas este não é o foco deste artigo, e, de qualquer forma, tal argumento não pode ser usado para justificar a omissão do poder público quanto ao investimento em cultura, sob pena de estagnar qualquer iniciativa. O fato de não haver fiscalização adequada associado à má administração pública, e a falta de transparência decorrente do poder centralizado, são questões que também devem vir a debate urgentemente. Mas não podem representar impasse à discussão aqui travada, que independe, em termos práticos, das mazelas organizacionais da política hegemônica. Por isso, propomos aqui que as administrações municipais devem gerar espaços de tipo cinemateca em suas cidades. E, em paralelo a estas iniciativas, devem investir em uma mídia audiovisual de baixo custo, fomentando a produção e distribuição da cultura local.
Assim como não é preciso reinventar a roda com os festivais de filmes por celular, não é necessário desvendar o que já existe. O Brasil tem uma experiência acumulada de oitenta anos de cineclubismo sendo que estes produtores e ativistas culturais são responsáveis pela história e preservação do cinema brasileiro. Mesmo se tratando de mídias digitais, qualquer organização de festival com o intuito de criar um circuito de acesso popular deve passar pelas entidades ligadas ao Conselho Nacional de Cineclubes (6) .
Já tendo o suporte de mídia (os celulares que gravam vídeos), a experiência acumulada (os cineclubes), a orientação de política pública de criar uma cinemateca por cidade, o que falta neste hipotético município para dar início ao festival e a difusão dos filmes digitais produzidos pelos moradores? Faltam salas de exibição em abundância e a custo baixo. Um dos aparelhos públicos que podem receber muita gente ao mesmo tempo são as escolas. Como já existe o costume de realizar atividades extraclasses nos finais de semana, por que os centros de estudo não poderiam abrigar as salas de exibição? Resta pensar em como fazê-lo.
Podemos pensar em um município da região metropolitana de Porto Alegre, como Viamão, que tem uma população de cerca de 250 mil habitantes e conta com 70 escolas municipais, entre urbanas e rurais (7) . Supondo que isto seja um padrão, vamos calcular esta média entre habitantes e colégios públicos da prefeitura. O investimento necessário seria o da compra de um projetor digital por escola. Cada equipamento custa em torno de R$ 2.000,00 a unidade. Portanto, o montante ficaria em torno de R$ 140.000,00, o que não é muito para uma cidade mediana. Fazendo uma comparação, somente com o IPTU se arrecada, em média, quase quatro vezes este valor mensalmente. Como se trata de um custo fixo na implementação inicial do projeto, o investimento posterior nestes equipamentos seria apenas para manutenção, o que resultaria, a longo prazo, numa queda significativa deste custo.
Voltando às “salas de exibição de filmes digitais”, não havendo condições de comprar telões para todas as escolas, passa-se para a solução mais barata. Assim, o custo por parede branca pintada não ultrapassaria os R$50,00 – sem contar a mão de obra, já existente dentro do quadro de pessoal das prefeituras. Deste modo, o valor total do investimento bruto em equipa-mento seria da ordem de R$ 143.500,00 (o valor dos projetores mais os R$ 3.500,00 gastos com material de pintura). Apenas para oferecer um termo de comparação, este custo em equipamento é muito menor do que se costuma se gastar em feiras ou acampamentos festivos em uma cidade mediana gaúcha. Nada contra estas celebrações, mas reitera-se que a obrigação de uma prefeitura deveria também ser voltada para o interesse público a longo prazo, não apenas pautando o tempo dentro dos quatro anos comuns ao remanejo eleitoral.
O demonstrado neste artigo é fato. É um exemplo de quão viável seria criar condições para implementações culturais-midiáticas de baixo custo, produzidas e co-geridas pelos próprios moradores. Tais iniciativas poderiam aumentar significativamente a carga cultural, a referência identitária coletiva e a capacidade cognitiva dos cidadãos de municípios mais pobres, sejam interioranos ou periféricos. E isso nos remete ao problema de fundo: existe interesse da parte dos políticos profissionais em fortalecer o grau de informação, comunicação e cultura de seus eleitores? Ao que parece, não existe. Isto porque o senso comum se fortalece com a ignorância e o clientelismo. Como nossa intenção é prescrever saídas viáveis para tal estado de coisas, aportamos aqui e em outras arenas estas idéias plausíveis. Na seqüência, abordamos o tema do apoio e suporte para os roteiros, edição e distribuição do audiovisual.
b) A construção de roteiros, a edição e possíveis financiamentos
Antes de mais nada, partimos de uma premissa. De que, por mais criatividade que tenha um autor independente, temos nossas mentalidades midiatizadas (THOMPSON, 1998). Ou seja, a livre criação no audiovisual será tão ou mais repetitiva do padrão da mídia comercial do que uma formação um pouco mais erudita. É neste quesito que entra a importância do apoio aos roteiros. O Brasil vive a ressaca da expansão descontrolada das faculdades privadas surgida na década de 90. Infelizmente, o mercado de trabalho formal não consegue absorver uma leva de dimensões absurdas de jovens trabalhadores em comunicação que são formados todos os anos.
Quanto menor a economia de um município ou região, mais heróica é a função de fazer mídia. Mídia de qualidade então, com algum grau de independência editorial e sem ser escravo dos anunciantes, é algo ainda mais difícil. Portanto, em qualquer região do país, por mais triste que seja esta constatação, teremos profissionais de mídia ociosos. É certo, não abundam nem so-bram egressos das escolas de cinema, mas a abundância resulta enorme em outras áreas de co-municação. Assim, seria uma forma de combater o ostracismo e projetar o potencial criador destes profissionais atribuindo-lhes uma tarefa de interesse público.
Imaginemos que em cada escola municipal, sendo uma média de 60 colégios por cada 200 mil habitantes, padrão de Viamão, haveria um profissional formado em uma área da comunicação. Sendo amplo e não corporativo, esta pessoa poderia ser graduada em relações públicas, jorna-lismo, publicidade, radialismo (de nível superior), estudos críticos da mídia ou cinema. Todo o processo seria coordenado por um grupo composto de cinco pessoas com diploma em cinema ou realização audiovisual. Desta forma se ocupam as mentes formadas pelo esforço brasileiro e que na maioria das vezes estão sendo pouco aproveitadas, em políticas públicas voltadas para o interesse público. A coordenação dos processos de roteiro e finalização caberia a estes profissionais de mídia, na área de cinema e realização audiovisual, respeitando a divisão de tarefas e áreas do mercado de trabalho e colaborando na qualificação da edição e finalização dos curtas.
Em termos de remuneração, tampouco o esforço é difícil. Projetos como “escola aberta”, por exemplo, costumam remunerar com ¼ de salário mínimo por mês referente ao trabalho de 4 horas por um dia de fim de semana. Supondo que o trabalho do festival dure em torno de três meses, trata-se assim de 12 sábados. Estes dias, multiplicados por 4 horas dariam um total de 48 horas de oficinas de produção audiovisual. Isto porque o processo de produção não impli-caria sair direto para roteirizar e filmar, mas passaria por uma formação mínima em cultura cinematográfica e de educação para a mídia.
O caráter pedagógico seria o papel da equipe de coordenação dos projetos de roteiro do fes-tival, que se encarregaria de montar uma filmografia brasileira e latino-americana, além de guiar os debates. Na prática, um festival dessa ordem seria um incentivo para ampliar o conhe-cimento dos munícipes em relação ao patrimônio audiovisual de sua região, nacional e da América Latina.
O custo do trabalho dos oficineiros, calculando a base de 60 escolas municipais a cada 200 mil habitantes, pelo valor total de R$ 7.200,00 por mês, ou R$ 21.600,00 ao longo do trimestre de atividades, trata-se de uma quantia ínfima frente ao valor que agrega à cidade. Imaginemos que um grupo de produção tenha, obrigatoriamente, de contar com ao menos 5 membros. E que, por cada escola – centro de produção, formação e edição – existam pelo menos 5 grupos. Assim, teríamos a conta de 25 pessoas para cada oficineiro. Na base de cálculo acima esta cidade teria iniciados na cultura cinematográfica a no mínimo, 1500 cidadãos. Em termos financeiros é um valor irrisório. Como patrimônio cultural de uma localidade, estas pessoas são um público alvo, críticos e possíveis consumidores de mídia local e regional.
Já a equipe coordenadora, igualmente trabalhando com valores modestos, poderia receber na base de três salários mínimos, livres de custos como deslocamento e alimentação, referentes a três dias de trabalho por semana. Por esta conta, a coordenação do projeto teria o “custo” de R$ 6.500,00 por mês ou R$ 19.500,00 ao final do trimestre.
O total com mão de obra já teria incluídos aos finalizadores, os mesmos coordenadores de projeto. Assim, para iniciar a 1500 cidadãos, realizar 300 curtas e difundir o nome do muni-cípio, os custos com mão de obra envolvida na produção audiovisual sairiam por R$ 41.100,00. Isto dá, por cidadão envolvido no festival, o valor de R$ 27,40. Já por curta gra-vado em formato digital, a mão de obra sai por R$ 137,00!
Suponhamos que seja feito um estojo com jogos de curtas, três DVDs, com 100 curtas em cada um deles. O exemplar, bem finalizado, teria um custo de produção de R$ 5,00 sendo vendidos pelo valor de R$ 10,00 cada. O pacote de todas as realizações em DVD seria vendido pelo valor total de R$ 30,00, e os realizadores abririam mão dos direitos autorais já em contrato, sendo que o ganho com a venda serviria para cobrir os gastos e se houvesse sobra, entraria para o investimento do mesmo festival no ano seguinte. Com a venda de 1370 exemplares do pacote com os três DVDs, estaria coberta toda a mão de obra. Ousamos dizer, de forma otimista, que caso sejam vendidos 2000 estojos com o conjunto dos curtas, conseguindo o valor de R$ 60.000,00 e todo o investimento no festival, incluindo o material de divulgação, as estruturas físicas, transporte e estadia do júri estariam cobertos. A exceção do valor incluído é a compra dos projetores, fator esse que, como já mencionado, deve ser visto como investimento e o custo maior reside apenas na fase inicial. Isto porque o festival é um mote, já a exibição regular de filmografia regional, brasileira e latino-americana é a atividade permanente.
É importante ressaltar que o gargalo da viabilidade imediata é a distribuição. Mas, ainda que uma atividade como esta não seja superavitária num primeiro momento, no largo prazo ela é viável, tanto financeiramente como para o desenvolvimento da cidadania. O valor agregado com a cultura geral de um cidadão é incalculável. Até que se ponha à prova, é um preconceito afirmar que o brasileiro tem preguiça de ler ou contenta-se “naturalmente” com a mediocridade dos enlatados. O que falta é o hábito incorporado ao consumo de bens culturais mais sofisticados, aqueles que falam de nós mesmos e ampliam horizontes. Qualquer administração municipal que tenha um mínimo de inteligência aplicada no bem comum ficará atenta para idéias de baixo custo e grande impacto. Mas infelizmente os dados da realidade contradizem esta premissa. Ou seja, poucas são as prefeituras que vêem a cultura de sua população como um valor. E mais, para o mau político, a ignorância e a banalidade estética são benefícios.
c) O gargalo da distribuição e o papel da educomunicação
Retornando ao último aspecto do debate aqui proposto, o gargalo está na viabilidade da dis-tribuição dos vídeos e realizações audiovisuais. Distribuir e financiar são problemas estruturais de toda a produção brasileira e latino-americana. Recordamos que a proposta de um possível festival ou mostra não competitiva serviria como motivação para construir uma linguagem audiovisual no âmbito de governo mais básico do país. Pelos cálculos feitos, para uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, haveria 60 escolas municipais, podendo ter em cada uma destas instituições uma média de 1 oficineiro orientando a 25 pessoas iniciadas na realização audiovisual. O produto deste esforço seria um pacote de curtas de 5’, 10’ ou 15’, cujo montante poderia chegar a 300 obras – indo das mais básicas e experimentais até as semi-profissionais. Este conjunto de obras sairia a um custo de R$30,00 nos três DVDs, visando à venda de 1370 pacotes, cobrindo, assim, os custos com mão de obra. Se a venda atingisse os 2.000 exemplares a R$30,00 o pacote, o faturamento bruto de R$ 60.000,00 cobriria todos os custos do evento.
Pode-se intuir que é arriscado imaginar a garantia de venda de 2.000 exemplares de pacote de 3 DVDs com curtas experimentais. Isto porque, como as obras têm origem experimental, e não contando com forte mídia de difusão publicitária, é certo que circularão pouco se forem contar apenas com “a mão invisível do mercado”. Mas é importante enfatizar que esta premissa é falsa, porque não existe “mão de mercado”, a não ser em um nível de economia ainda concorrencial e de baixo custo, como venda de lanches, por exemplo (STIGLITZ, 2002). A mão aqui envolvida, não é “de mercado” e é bem visível. Parte-se deste ponto de vista para afirmar que este tipo de realização só é viável se for enquadrado como política pública. Em uma rubrica orçamentária e não somente como produto de leis de incentivo à evasão fiscal ou manobras semelhantes para esvaziar o caixa do Estado.
A Constituição prevê que 18% do orçamento federal têm de ser aplicado para a educação. E, para estados e municípios, o valor chega a 25% do bruto (LEMOS, 2006). Ou seja, ao invés da “mão invisível que não existe”, entendemos que a rubrica devida deva ser a da educação. Produzir cultura não é algo secundário e cada vez mais a capacidade de fazer e criticar a mídia são uma necessidade da civilização contemporânea. Uma forma de entrar na disputa pela circulação de produtos audiovisuais é considerar a produção como material didático, admitir a necessidade de promover a chamada educomunicação e retomar o incentivo às culturas populares no ensino da rede pública. Tudo isto sem gerar muitos gastos.
Tomamos como base de cálculo para esta viabilidade o mapa político do Rio Grande do Sul. Faremos uma conta aproximada, considerando uma das 25 associações regionais de municípios afiliadas na Federação de Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS) (8) . Supondo, sem contas de rigor, a realidade da Associação dos Municípios da Região Sudoeste do Estado (ASSUDOESTE), onde constam os municípios de Bagé, Caçapava do Sul, Candiota, Hulha Negra, Lavras do Sul, Aceguá e Dom Pedrito, num total de sete. Supondo também que estas administrações tenham um total de 120 escolas municipais, dentre urbanas e rurais, o que resulta em um volume razoável. Se e caso uma cidade não tenha condições logísticas de realizar uma mostra, esta pode ser construída dentro de sua associação regional de municípios. E, para troca e compra de produtos, dentro da rubrica do orçamento da educação, a distribuição e a viabilidade também podem dar-se através de outras associações regionais.
Um exemplo está na associação mais próxima da ASSUDOESTE. Uma das entidades vizinhas desta, da microrregião do sudoeste rio-grandense é a Associação dos Municípios da Fronteira Oeste (AMFRO). Nesta constam os municípios de Alegrete, Itaqui, Manoel Viana, Rosário do Sul, Santana do Livramento, São Gabriel, Barra do Quaraí, Maçambará, Quaraí, Santa Margarida do Sul, São Borja e Uruguaiana, num total de 12. Uma base possível de conta é dividir os custos de compra na rubrica de material didático dos DVDs entre os municípios da associação vizinha. Assim, entre estas 12 administrações da AMFRO, estaria o rateio de R$60.000,00 dos custos de produtos de uma mostra, saindo por R$5.000,00 por cada administração. O valor total pode ser adquirido pela associação e o custo rateado de acordo com o número de escolas municipais e aparelhos culturais de cada cidade.
Ampliando a proposta, a distribuição também poderia ser feita por dentro do municipalismo brasileiro, comprometendo-se com a compra por pelo menos uma associação regional de municípios por estado brasileiro. Supondo que uma entidade deste porte tenha 12 administrações, como a AMFRO. Então, bastaria que outras quatro associações de municípios, uma por cada região (norte, sudeste, centro-oeste e nordeste), além da região sul (já contemplada) rateassem a compra e estariam cobertos os gastos. Os custos seriam divididos em R$ 12.000 por associação de municípios, onerando em aproximadamente R$ 1000 por administração, se tomássemos como base o exemplo aqui desenvolvido. Este valor, dentro da rubrica anual de educação, é simplesmente irrisório.
Considerações Finais
O mecanismo proposto pode se reeditar em outras áreas e ainda dentro da ICC (informação, comunicação e cultura), viabilizando a produção cultural, midiática, a leitura crítica da mídia comercial, os veículos de comunicação social locais e a educação pela mídia (educomunicação). A construção horizontal dessa rede e teia de produção nacional pode ser uma das bases do desenvolvimento do município. A valorização simbólica da identidade coletiva e a produção de discursos projetam o local para outros patamares. A relação direta entre municípios proporciona uma cadeia que atende às necessidades urgentes para fixar as famílias em locais distantes dos grandes centros metropolitanos. Como já dito antes, o “valor agregado” de uma iniciativa como essa é incalculável, tanto no âmbito da cultura e da educação, quanto no âmbito político, seja este midiático ou institucional.
* Bruno Lima Rocha é jornalista graduado pela UFRJ; mestre e doutorando em ciência políti-ca pela UFRGS. Editor do portal de análise política Estratégia & Análise (www.estrategiaeanalise.com.br) e membro do coletivo de formação da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO). Editor do jornal Repórter Popular, colabora na construção de uma rede de comunicação popular através do coletivo de mesmo nome e é membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Economia, Política e Sociedade (CE-POS/UNISINOS).
** Rodrigo Jacobus é jornalista graduado pela UFRGS; profissional da área de Tecnologia da Informação e mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/FABICO/UFRGS). Editor do jornal Repórter Popular, colabora na construção de uma rede de comunicação popular através do coletivo de mesmo nome e é membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Economia, Política e Sociedade (CEPOS/UNISINOS).
Notas
1 Popularmente conhecidos como MP3 ou MP4 Players.
2 Dois bons exemplos são respectivamente o software ZS4 Video Editor (http://www.zs4.net) e o YouTube (http://br.youtube.com).
3 capitais regionais, segundo o IBGE.
4 O Brasil, segundo Sérgio de Azevedo, consultor do Ministério das Cidades, tem 30 Regiões Metropolitanas que abrigam a cerca de 50% da população brasileira. (ASSEMBLÉIA LE-GISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2005)
5 É importante ressaltar que esta iniciativa dialoga diretamente com o mercado, tendo recebido o “apoio” da Vivo Celular, empresa subsidiária da Telefónica do Brasil S/A, filial brasileira da transnacional espanhola de capital misto, a Telefónica S/A, com presença direta em 46 países, sendo que 19 na América Latina. Ver http://www.vivo.com.br/institutovivo/telinha_no_cinema.php e http://www.telefonica.com.br/sobre/grupo_telefonica.htm.
6 A Federação da Associação de Municípios do Rio Grande do Sul representa a cada um dos 496 municípios gaúchos organizados em suas 25 associações regionais. Para saber mais sobre as Associações dos Municípios, ver mapa das associações de municípios na página oficial da FAMURS em http://www.famurs.com.br/.
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